12 de outubro de 2016

Joan Miró: Materialidade e Metamorfose




A exposição temporária mais falada do momento e talvez a mais polémica está no Porto, em Serralves.
85 obras do pintor catalão são nossas, são do Estado Português, dos Portugueses. 35,9 milhões de euros foi a avaliação feita pela Christie's.
Mas números à parte, porque no meu entender, facto é que estes pedacinhos de História são inestimáveis e de valor incalculável, e não haverá, com certeza, milhões que paguem o desaparecimento de cada um deles...

Vamos ao que interessa:
78 obras de Miró moram na Casa de Serralves, por enquanto e até Janeiro de 2017 (7 obras da colecção ficaram de fora, por opção do Curador da exposição e especialista mundial na obra de Miró, Robert Lubar Messeri) e eu fui lá vê-las!!
Entre pinturas, desenhos, colagens, tapeçarias e esculturas, a diversidade é grande e as sensações que cada uma destas obras fornecem são das mais distintas e antagónicas.
Para mim é um dos grandes génios que fazem parte da nossa História.



No entanto, a meu ver, algumas considerações deverão ser feitas...
Primeiro, a escolha do local para receber a primeira aparição pública da colecção. A Casa de Serralves. 
Ainda que compreenda o que motivou a Directora do Museu, Suzanne Cotter, para tal escolha, ou seja, por um lado, o facto de todo o ano expositivo estar já decidido dentro do Museu, a Casa era a opção que poderia resultar, uma vez que o ex-Ministro da Cultura, João Soares, apressou-se a anunciar que a exposição iria ser mostrada pela primeira vez em Serralves; por outro lado pendia também o facto da Casa ser contemporânea às obras de Miró, o que à partida pareceu uma simbiose talhada para a perfeição...
Ainda assim, e atendendo aos motivos evocados, não acho que a Casa tenha o peso, a dimensão e a imponência artística que uma colecção de um artista daquela notoriedade merece. Já se a exposição estivesse dentro do Museu... bem, julgo que a conversa seria outra. A sensação que tive, abstraindo-me de tudo o resto/experiências que vou já contar, foi que em certas salas os quadros estavam todos "encavalitados", demasiado juntos, uns por cima, outros por baixo, como se das paredes de nossa casa se tratasse.... Foi impossível na conjuntura que era o ambiente que se vivia naquela Casa naquele Domingo de manhã, apreciar com o cuidado e ponderação necessários para o entendimento das obras, elas completamente novas e abstractas aos meus olhos e daqueles que por lá passam.




Segundo, achei que para além de não haver perímetro de segurança em torno de maior parte das obras, o que julgo ser essencial, (porque para mim este perímetro mais não serve do que para evitar aqueles mirones que gostam de colar o nariz nos quadros e que assim ficam uma boa meia hora, impossibilitando os restantes mirones de mirarem Miró!), também não havia distância suficiente para nos podermos afastar do quadro para o conseguir observar como um todo, uma vez que as salas da Casa são pequenas para se poder fazer este tipo de exercício de apreciação.
Uma mais nota sobre o perímetro de segurança que tenho a fazer, é que achei absolutamente descabido encontrar a única escultura no meio do corredor assim "pousada" e várias pessoas coladas, que a escondiam, crianças a correr de um lado para o outro e a poderem chocar com a obra, enfim... ainda tive que ficar uns bons minutos à espera de conseguir uma abertura na "multidão" para poder tirar uma fotozita e apreciar a escultura em condições.
Para além disto, o panorama que se encontrava naquela Casa naquele Domingo de manhã, era: demasiadas pessoas para um espaço tão pequeno, crianças de colo e miúdos pequenos a correr de um lado para o outro, a fazer um barulho demasiado intenso para a dimensão da Casa e para a solenidade e tranquilidade que aquela exposição merece, num cenário que se assemelhava a um parque infantil. No meio disto tudo ainda se viu um funcionário do museu a fazer um perímetro de segurança bastante adequado, mas não era a um dos Mirós, mas sim a uma bela poça de vomitado que alguma daquelas dezenas de crianças deixou para trás... 
No fundo, a visita foi até curta, porque para além da casa ser pequena e nem meia dúzia de salas tinha com as obras, e nas poucas que tinha, os quadros estavam todos juntos, tivemos de ver rápido os quadros porque as pessoas eram mais do que muitas à nossa volta e quase se sentia aquela pressão do "despacha-te lá a ver isso, que eu e as minhas 5 crianças que entraram de graça na exposição, o que é óptimo porque não tive que pagar bá-bá para ficar com elas, nem chatear a minha sogra, queremos ver os Mirós, e os miúdos já estão fartos de estar trancados aqui dentro e não estão a perceber nada do que vêem".




Bem, mas críticas feitas, aconselho a toda a gente ir lá mirar os Mirós, porque realmente as obras valem a pena e a minha vénia vai para o tal Senhor Coleccionador japonês que vendeu as obras ao ex-BPN, porque para além de ser podrinho de rico, tinha bom gosto que se fartava, e em vez de estourar o dinheirito em carros de luxo infindáveis que só ficam na garagem a ganhar pó, e mansões com quartos para cada um dos seus gatos, e em saquê engarrafado em garrafas de ouro, guardou uns troquitos para ir adquirindo o que hoje é uma colecção que dá orgulho ao povo português de chamar de sua!
Não aconselho no entanto a ida ao Domingo, senão apanham um fila de 1:30h para a bilheteira, como eu, e ficam a chorar os 11 euritos que pagam por entrada porque não vão conseguir apreciar com a devida qualidade e tempo as preciosas obras. Talvez um dia da semana seja uma boa opção.

Independentemente de todo o resto e esquecendo as birras e berreiros das crianças que por lá andavam, adorei a coleção de obras de Miró que residirá no Porto (orgulho!!!), e que ainda não tem morada definitiva; e voltarei, quem sabe, a ir visitar estas relíquias enquanto estiverem na Casa de Serralves, mas à semana, numa hora de almoço talvez, enquanto as crianças estiverem no infantário e o volume de visitas, presumo, seja menor. Vale uma segunda oportunidade.


Kiss kiss

S.


































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